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Sonho de virar médico: Menino anda 2 kms por dia para ter internet e não perder aula on-line

Foto: Arthur Menescal/Metrópoles Em todos os cantos do país, estudantes e professores estão empenhados para tentar dar conta das aulas que s...

Foto: Arthur Menescal/Metrópoles

Em todos os cantos do país, estudantes e professores estão empenhados para tentar dar conta das aulas que são realizadas a distância, pela internet, por causa da pandemia do novo coronavírus. Mesmo com várias dificuldades, crianças e jovens estão enfrentando as barreiras pela educação.


Mas como fazer isso em lugares onde o acesso à internet é limitado e até mesmo o sinal de telefone é precário? É o caso do aluno Pedro Henrique Feitosa Siqueira, de 8 anos. Ele mora com os pais e três irmãos na área rural da Fercal, distante cerca de 40 quilômetros do centro do Distrito Federal.


Apaixonado pela educação, ele não mede esforços para conseguir realizar o seu grande sonho de ser médico e ajudar a família. “Quero ser médico e cuidar das pessoas com Covid”, contou a crainça, sem titubear ao ser questionado sobre o seu maior desejo.


O pai de Pedro é caseiro em um haras da região e, a mãe, desempregada, faz bicos como diarista.


Por causa da pandemia, com aulas on-line, o garoto está com dificuldades para estudar. A casa em que vive é simples e fica dentro do terreno do haras. O sinal de internet não chega até o local. Pedro, que está no 3º ano do ensino infantil, vai todos os dias até a sede da fazenda, caminhando por aproximadamente 1 km, para conseguir acesso ao conteúdo escolar. Considerando a ida e a volta, o pequeno anda diariamente 2 kms para não perder o conteúdo minsitrado por professores de forma on-line.


Aulas presenciais suspensas


A instituição que ele estuda e tanto gosta, a Escola Classe Sonhém de Cima, no assentamento Contagem, fica perto da casa dele.


Antes da pandemia, ele ia para a unidade de ensino pública de transporte escolar. Quando vieram as aulas a distância, não conseguia assistir e, em busca de seu sonho, teve de se adaptar à nova realidade. Assim, localizou o único ponto do sítio onde a internet chega.


Ao Metrópoles, a mãe de Pedro, Érica Alves Feitosa, 36, relatou a rotina do filho e elogiou o seu esforço e dedicação aos estudos. “Mesmo com a dificuldade, ele não desanimou e encontrou um jeito. Conseguiu emprestado o sinal de internet na casa vizinha, mas o caminho até a propriedade rural é longo.”


Para chegar até lá todos os dias, ele combina um horário fixo com o professor e sai de casa junto com a mãe e os irmãos. Juntos, eles atravessam a estrada de terra até chegar ao lugar onde o menino consegue contato virtual com o professor.


“Temos de passar por duas porteiras e ir pelo pasto, até chegar”, detalhou a mãe.


Com a imaginação, ele fez do lugar uma sala de aula improvisada: leva estojo e cadernos e, pelo celular da mãe, vê o conteúdo, as aulas e tem o retorno do professor.


“Eu adoro português. Falo com o professor e ele me ajuda. Também faço anotações importantes no meu caderno. Não quero parar de estudar até virar médico”, sonha Pedro.


“É muito difícil. Tive que fazer um pacote de dados móveis para ele conseguir assistir aula. Mesmo com os deveres impressos, a gente sobe para o curral e o Pedro se senta nas baias do local para fazer os deveres. A nossa família é humilde. Não temos condições. O nosso objetivo, agora, é conseguir ajuda com material de construção para fazer uma casinha na cidade e ficar mais próximos da escola. Temos fé em conseguir”, acrescentou Érica.


Dedicação


Na rede pública de ensino do DF, as aulas presenciais estão suspensas desde março de 2020. Na segunda quinzena de junho do ano passado, o governo lançou um programa de educação a distância e retomou o ano letivo de um jeito diferente: por aulas remotas. Desde 13 de julho de 2020, começou a ser obrigatória a participação dos 460 mil alunos da rede pública de ensino no programa Escola em Casa DF, com aferição de presença e avaliação de acordo com a realização das atividades propostas pelos professores on-line.


Neste 2021, o início do ciclo letivo para professores e estudantes da rede pública de ensino ocorreu em 8 de março ainda com a utilização da mesma ferramenta.


A diretora da Escola Classe Sonhém de Cima, Maria do Socorro Xavier Rodrigues Ritter, 50, trabalha no local há 18 anos.


Para a reportagem ela comentou que o caso do aluno Pedro Henrique não é o único da comunidade, já que o sinal de internet no local é ruim e, na maioria das vezes, os educadores usam pacotes de dados móveis pessoais para entregar as tarefas da escola aos alunos.


Os diretores das escolas também entregam as apostilas impressas para quem não consegue se conectar.


A escola atende cerca de 170 estudantes da educação infantil ao 5ª ano divididos em oito turmas. As educadoras produzem o material didático e levam de porta em porta para os alunos, para que não sejam prejudicados no conteúdo durante a pandemia.


A diretora elogiou o empenho de seus alunos. “O nosso trabalho vai muito além das nossas responsabilidades. Mesmo com todas as dificuldades, encontramos um jeito de atender todas as famílias. Entregamos os kits dos nossos meninos e meninas e, diariamente, os professores acompanham as atividades das crianças”, disse Maria do Socorro.


“O Pedro é muito esforçado. Está aprendendo a ler e escrever. Estamos muito contentes com a evolução dele e com o interesse dele em acompanhar as aulas. Fico encantada e feliz em ajudá-lo a encontrar o caminho. Se ele quer ser médico, ele vai ser. Estamos dando o primeiro passo”, completou a diretora.


Balanço da secretaria


Acionada pela reportagem a Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF) informou que todos os profissionais da educação e estudantes, inclusive os das áreas rurais, utilizam o Google Sala de Aula, plataforma do Programa Escola em Casa da rede pública de ensino da capital da República.


“Há 470 mil estudantes e 72 mil profissionais da educação cadastrados na plataforma. Desde o início do funcionamento, foram 17,5 milhões de acessos por parte de estudantes e outros 3,6 milhões de professores”, expôs a SEEDF.


Ainda segundo a secretaria, a pasta disponibiliza pacotes de dados de internet a todos os profissionais da educação e estudantes para o acesso de dispositivos móveis.


“Os estudantes que ainda não têm acesso à internet ou que por algum outro motivo precisam de materiais impressos, a Secretaria de Educação está fazendo entregas nas residências”, concluiu.


Com informações do Metrópoles

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